Saber-se de cor... - #grupodeescritamatinal

 




pedaço de partícula de vento, voo por aí
quando não voo, levito, pairo, existo
eu e tudo ao meu redor 
somos 


essência líquida, gasosa, gosmenta
habita dentro de um corpinho pequeno
como tantos outros por aí


comprimir universo dá nisso
migalhas de caos querendo sair 
tudo ao meu redor e eu


cada parte de mundo é mundo por si só
todo um mundo inteiro dentro de mim
eu e tudo ao meu redor
somos


(mari desconsi)


***

Eu decor – Sob o olhar de mim mesma 
 
 
O desafio era me olhar sem físico nem porte, sem currículo nem conceito, sem nome ou preconceito. Foi ai que me perguntaram, ei quem é você? 
Com a câmera fotográfica na mão pronta para me clicar e fazer um book sobre minha existência comecei o ensaio fotográfico, ou seria o ensaio almagrafico?  
Primeiro a luz batia entre o coração e cérebro e uma sombra deitava sobre a parede do estúdio, olha lá é ela eu pensei. Medrosa, inquieta, paralisada alma presa a uma existência que ela não compreende. Corre de si mesma, tem medo de tudo, se esconde no ato se perde no mundo. Ali esta ela, fraca, mimada, egoísta e interesseira, coloca segurança e conforto antes do outro. Mas a sombra é real? O que é real? 
Mudo o ângulo da câmera e de novo através das lentes vejo agora um camaleão, que lindo. Ela é mutável, adaptável, interessante companhia para trocas intelectuais, transa, tesão ou aventuras mentais. Ela é hoje e amanhã também, hoje quer e amanhã não sei. Pelo ângulo lateral percebo  que é bem humorada, quase todo dia, agradece a vida que lhe foi dada. Mas se com atenção você a olhar de frente, hmm ela também  é espiritualizada e quando a mente aquieta a centelha divina nessa casa se faz morada. Ela é atenta e escuta os outros, com amor e curiosidade, gosta de uma boa prosa e também de uma noitada. Sim, olha ela por de trás muda o foco da câmera, e escuta o som do funck ao clássico que ela trás. Hora decidiu a vida, hora é caos. Mas sempre deliciosamente adaptável e maleável. Claro desde que a estrada seja segura e também confortável. As fotos estão ficando lindas, click, click, click. De qual ângulo quero me ver hoje?  
 
 
 
Por Gabriela Lyra 13/09/2021 


***
espelho, espelho meu, me mostre quem eu sou
(catarina de luca)
eu sou a alegria da minha mãe, que chorou quando eu nasci.
eu sou as amizades que mantive com meus velhos colegas.
eu sou o uniforme que usava, uma saia de pregas.
eu sou as musicas que me criaram, as vozes de marisa, caetano e gil.
eu sou os bolos que fiz na casa dos meus primos, acho que foram uns mil.
eu sou o sol que me bronzeou, cada mês de dezembro.
eu sou os filmes que já vi, as falas que ainda lembro.
eu sou as comidas que gosto, sim de salmão, não de ovos.
eu sou os réveillons que já passei, as ondas que pulei, todos os anos novos.
eu sou os lugares que já vi, as montanhas, as florestas, os mares.
eu sou as pessoas que já amei, namorados, amigos,
familiares.
***
Passei casualmente na frente do espelho, e percebi algo fora do lugar. Um fiozinho de ansiedade que não estava alinhado. Pudera, recentemente os dias têm sido tão corridos que nem tem dado tempo de arrumar os pensamentos negativos. 
Cheguei mais perto do reflexo, e notei que meu ego estava mais murcho. Isso é ótimo, desinchou um pouco, prefiro ele assim. Dei uma viradinha para ver melhor a saudade dos amigos. Enorme, como sempre. Fazer o quê? Eu sempre tive tendência a me apegar. Os anos me ensinaram a ver com bons olhos as voltinhas da minha sensibilidade e choro fácil. Notei que a empatia estava ali, e que vez ou outra no dia-a-dia esqueço-me de exercitá-la. Lembrei mais uma vez que deveria dar adeus ao sedentarismo, e cuidar de ser empática mais vezes. 
Estiquei-me, ficando na pontinha do pé, pois mal dava para ver o meu carinho por mim mesma - mas ele estava ali, ufa! Achei que havia esquecido em casa. Relaxei os ombros, parei de encolher a barriga, quis ver como eu ficava vestida de insegurança. Look batido, se deixar eu saio assim todos os dias. Hoje não, pensei. Vou esconder com a barra da blusa para dentro da calça. 
Hoje, quando me vi no espelho, a cor da esperança me saltou aos olhos de pronto, e percebi que saí de casa coberta de olhar para os pontos positivos, riso solto e determinação. As bolsas da depressão sob os olhos estavam curtas, e as cobri com muita força de vontade. 
Sempre vejo algo de diferente nesse reflexo de sempre eu, mas sempre o conheço de cor. 
(Camila Pontes)


***
Oi! Sou Ana Flávia Viebrantz Fusinato.
Viebrantz conta sobre de onde vim, descendida de uma família com origem alemã, e mais recentemente gaúcha (avô) e catarinense (avó). Há muito dessas raízes em mim. O gosto culinário por mistura de doce com salgado, o hábito de tomar chimarrão, os ovos de galinha pintados na páscoa, a paixão pela jardinagem. Sinto muito por não carregar o sobrenome “Datsch” da minha vó Lorena.
Fusinato é minha raíz italiana-catarinense, junto com Altoé que não está registrado no meu nome mas está no meu sangue. Vó Polônia, de origem italiana-capixaba, mulher potente e à frente de sua época, que muito me serve de referência.
Meus pais, paranaenses, conjugaram essa mistura e tiveram a mim. Nascida e crescida em Maringá, sou um pouco de Beto e um pouco de Daisi somado a todos que vieram antes de mim.
Não dá pra pensar quem sou eu sem buscar compreender quem foram eles. Não dá pra ser compassiva comigo se eu não tiver compaixão por quem veio antes de mim. É só olhando para minha história que consigo organizar quem eu sou e pensar em quem desejo ser. Honrar meus antepassados é um exercício bonito e doloroso, mas necessário.
(Ana Flávia)


***


Quem sou eu? Ser quem sou é como respirar. Inato, mas se perco o passo, tenho de relembrar como se faz (ou como me faço). Minha respiração é sempre silenciosa, mas quando respiro fundo, faço questão de encher bem meus pulmões para conseguir correr, andar ou simplesmente segurar aquela gota de choro que fica presa na garganta. Quando não seguro o choro, sou como só eu e a respiração somos: silenciosas ao nosso modo. Mas, de vez em quando, a minha respiração não tem fim, e é assim que me sinto. Inalcançável e infinita. Cheia e plena. Sem problemas nas vias, sem obstruções. Sou como a minha respiração numa manhã de sol que abre os olhos castanhos amendoados na frente do mar. E também sou como a minha respiração quando a ânsia de chegar a um ponto pede que eu tire lá de dentro algo que eu nem sabia que existia. Sou a dor que fica no diafragma depois de chorar madrugada adentro durante uma crise de ansiedade em que prendi demais o fôlego. Sou o mergulho numa piscina funda, sem medo de me afogar, mas com a cautela que as mães têm quando cuidam de filhos pequenos. Às vezes me esqueço de mim, assim como às vezes esqueço de respirar fundo, de prestar atenção nos meus movimentos, nas minhas ânsias, nas minhas narinas. E quando estou para explodir, aí sim uso a boca. Para ser quem sou e para respirar. Oxigeno bem o cérebro, penso muito rápido, às vezes tão rápido que meu próprio corpo não consegue acompanhar. E aí desabo de novo, num solavanco interno, trancando o meu respiro, fechando quem eu sou. E, de repente, sou de novo. Porque é assim que a respiração é. Ela é. E eu também sou.  
(Mariana Ornellas)


***


Decor(ar). Do saber pelo coração,
de ver com olhos de dentro. Entender pela alma. Memorizar pelo sentimento. Aprender a estar e sentir, não se rotular. Ser infinitos particulares em si. Amar todas as nossas próprias versões. Acolher as piores. Perdoar as errantes. Engrandecer as corajosas. Orgulhar-se das evolutivas. Sorrir com as tresloucadas. Aventurar-se com as destemidas. Proteger as feridas. Apoiar as mutáveis. Amar as impermanentes mutantes.
Enaltecer, cada uma dessas versões. Ilimitar definições. Honrar a pluralidade singular. E, agradecer por não enquadrar-se a descrições simplistas. 
Apresentar-se, pra si e pro mundo, como essa farta e indivisível possibilidade de ser. 
Homonimamente decorar quem somos. Enfeitando nossa alma e memorizando nossa essência, sem precisar de espelho ou aprovações. 
(Bruna Castro)
***
Hoje sou alguém que come, bebe, cheira, olha, dorme, repousa, colabora e se isola.
Tenho um turbilhão de pensamentos e sensações que convivem em eterna tentativa de se amar, amar e ser amada
Não me lembro de ter deixado de sentir algum sentimento ruim, só de sentir menos (alguns - rs) a cada dia que passa.  Sinto raiva, egoísmo, rancor, inveja, dentre outros.
Agora eu me sinto uma cínica serena. Ontem a noite estava mais para romântica esperançosa.
Eu escrevo para que a escrita seja uma corda que eu caminhe em tentativa de equilíbrio.
Nesse momento eu sou eu,Marília Gabriela, Clarisse, Pessoa, Maria, Luiz, Helena Borum, a cachorra Laila aqui ao lado, os passarinhos que não param de piar, o morro coberto de verde aqui na frente, bem como a construção irregular que minha vista alcança de diversas garagens dentro de um condomínio de casas populares...
E, nessa manhã, eu também sou você.
(Por Nayara Souza)


***


Ver-se no espelho sem se olhar

Com quem eu pareço?
Ah, não vale?
Não pode comparar?
Xi...
Não pode comparar com a filha da vizinha?
Tiraram os espelhos de repente.
Tiraram os observadores.
Os olhos grandes sobre mim.
Posso então me olhar... sem espelho?
Frio na barriga.
Não é proibido?
Não faz as pessoas ficarem loucas?
Lembra daquele menino que não fez igual ao filho da vizinha dele
e ficou louco?
Bom, se você está dizendo...
Não sei de que cor eu sou,
Não sei de que material eu sou,
Pareço translúcida,
Permeável,
Vou parar porque é insuportável.
Juntar todas as minhas forças e voltar.
Afinal,
Que coisa sem sentido
Com certeza sou parecida com a filha da vizinha!
Mas me dá certa curiosidade
Não consigo parar, mesmo tendo planejando um texto curto
Já estou pulando lá de novo...
Veias, pulso
Útero
Interior da coxa
tornozelo

O corpo está acomodado, mas tem alguma coisa que grita
Que não está cabendo
E os órgãos, veias e músculos estão misturados
Numa massa minha, aerada
Massa aerada
Que pulsa
Sou uma massa aerada com um útero de fogo
pulsante.
Agora sim, satisfeita.
(Cibele Cipola)




Comentários

  1. Gostei demais da poesia da Catarina! Somos uma composição de tudo e todos que nos atravessaram... Parabéns! :)

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    1. Muito obrigada, Ana Flávia! Também gostei muito da sua escrita!

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