Céu - #grupodeescritamatinal



***

(Cláudia)


***

(Nina)


***

De fogo e de poesia
Fernanda França de Oliveira

Domingo de sol, Rio sem máscaras, ruas lotadas, sensação libertadora de tudo voltando ao normal.
Reunião de mulheres. Mulheres lindas, mulheres literárias. Mulheres que não se deixam queimar pelo fogo alheio. Mulheres que vivem do fogo próprio. 
Ouço histórias incríveis, histórias de mulheres enormes que me fazem me sentir maior por estar na presença delas. A Praia Vermelha ao fundo, as ondas fracas a reverenciar a força dos relatos de amor próprio. Vejo as mulheres quentes no calor de um dia de sol, admiro a expressão de cada uma delas, apaixono-me por suas trajetórias ao mesmo tempo em que me apaixono pela minha. Mulheres que não diminuem mulheres, mulheres que inspiram mulheres, mulheres que incendeiam mulheres. 
Caminhamos pelas ruas da Urca colando poesia. Colando e ouvindo poesia, poesia de mulheres em seu estado mais puro. Sentamos para ver o pôr do sol na mureta. Outras mulheres se juntam a nós, e eu sinto como se estivesse em um longo e estarrecedor sarau de poesia. Poesia de mulheres. Poesia pregada nos muros, poesia de um dia quente, poesia poderosa que sai da boca de mulheres.
Agradeço-me por participar daquele encontro, por integrar aquela paisagem, aquele dia de sol no meio de poesia que ferve em fogo próprio. Fogo de mulheres que acendem e incendeiam o que há de mais poderoso em outras mulheres. 
Observamos juntas a noite cair, iluminadas pela fogueira de nós mesmas.

***

Nesta praia deserta
o céu estelar é mais negro
Mais vivo do que nunca dantes vi
Sinto a brisa do mar e me arrepio
Intuindo os momentos mágicos 
que virão

Um barquinho no mar
sob o manto negro estelar
Cá estou navegando
atravessando, solitária, a noite
da praia à ilha
numa loucura aventureira que
ousei não só conceber, mas concretizar

Miro as estrelas e
observo as águas sagradas
que duplicam os corpos celestes
como num espelho natural

Ouço o canto agudo, intenso, profundo
Então vejo as escamas, belíssimas
de um verde azulado, dentre tons de alaranjado
O corpo fusiforme
Seus longos cabelos ruivos
e tento resistir
mas é tarde demais
Caí

Naufrago
Hipnotizada, enfeitiçada
pelo ser metade peixe, metade mulher
Que me envolve e me leva
Pra longe dali

(Maria Helena Coelho de Aguiar)

***

(Fiamma)


***

Coruja

- Mas o tempo tá nublado… não tem lua
- Você acha que é assim? Quer esperar a lua aparecer pra sair de casa pra vê-la? 
- Não?
- Não. Temos que ir antes, com o céu nublado, aí ela aparece pra nós, abrindo o céu entre as nuvens.
- É?
- É. Vamos.
Na praia, éramos somente nós, a areia, o tecido, o mar, nuvens, árvores, a escuridão e a conversa. Depois de um bom tempo, nossos olhos já acostumados com o escuro, já enxergavam tudo, a escuridão era acolhedora, trazia paz. Por trás do morro, amarela e cheia, veio a lua, majestosa, azulando tudo ao redor. A água, antes escura, agora era transparente.

Agora, agora mesmo, quando escrevi que a lua azulava tudo, me lembrei da imagem da personagem protagonista do Melancholia, do Lars Vontrier, tomando banho de lua azul, nua.

- É melhor assim mesmo, ir esperar a lua na praia, em vez de esperar ela aparecer pra sair.
- Pois é, se estivéssemos esperando não teríamos visto a lua nascer, talvez nem tivéssemos vindo e conversado tanto antes da lua chegar. Fora que aproveitamos a escuridão, antes do azul da lua chegar.
- Simmm... e era capaz de estarmos cada um no seu celular, em casa, sem conversa e sem lua. acabaríamos nos esquecendo da lua, de vir ver a lua.

Não sei se era vulto, somente um vulto ou se era mesmo uma coruja negra voando como águia em cima de nós. Voava e pousava na pedra, e voava e pousava, voava circulando em cima das cabeças. Todos a vimos, todos estivemos com ela. E achamos que ela havia escutado nossa alegria, nossa risada, conversa e veio pra estar junto. 

Fico pensando nas luas que vi(vi).

Não foi o ácido, a coruja esteve lá mesmo.
O ácido nos fez rir muito e super dimensionar as pedras negras vulcânicas, a mata, a lua rasgando o céu em cima de nós. Mas a coruja era real, não foi delírio do ácido, ela voava em círculos querendo estar perto de nós, naquela vasta escuridão. Estava ela curiosa? Quem são esses animais ruidosos gargalhantes? Essa hora, o som é só do mar, nenhum ruído a mais.
Estávamos reunidos na beira do Cliff (penhasco), onde sempre íamos pra estar e pra voar do alto da pedra, mergulhando no verde esmeralda translúcido do pacífico. Um nem precisaria tomar nada pra ficar doido, o mar, o verde do mar, as pedras negras já deixavam qualquer um embriagado pela força na natureza. 
Mas nunca havíamos ido no Cliff à noite. Isso sim, foi o ácido que nos levou para o Cliff à noite. A vontade de estarmos juntos em uma viagem de ácido em lugar familiar que nos acolhia. Nunca havíamos pulado a noite.
A insanidade da adolescência. Pular do Cliff a noite, doido de ácido. Voamos pouco nessa noite, o grande voo foram as conversas, as histórias e a coruja.
Bruno, David, Bruno e Eu. Éramos inseparáveis naquele momento da vida. 22, 19, 20, 18.
Eu era cozinheiro no Zelo’s. Nessa noite eu teria fechado o meu turno noturno normalmente, quando um dos Brunos adentrou a minha cozinha pelos fundos, pegando as coisas, colheres, panelas, trocando os lugares como as crianças fazem... vamos, vamos, vamos…
Ele estava meio descontrolado, ele era uma pessoa descontrolado mas, nessa noite, ele estava além da conta, bagunçando a minha cozinha.
Espera, eu vou, eu vou mas para um pouco porra!
Porra e silêncio e escuta. O “Porra!” que eu gritei o paralisou. Escuta integral, olhos nos olhos, todo o corpo saiu do frenesi anterior pra me escutar, ficou em um estágio de pura entrega: seu corpo todo me ouvia.
- Eu preciso fechar a cozinha. Me ajuda que saímos daqui mais rápido.
O descontrole de Bruno se tornou foco e organização. Me ajudou a desligar os fornos, a chapa, lavou as louças enquanto eu varria, passava pano e guardava os preps. (alimentos). Claro que ele não parava de falar enquanto fazia as coisas. Eu era todo escuta.
Tinha tomado um ácido sozinho e estava entre a “good e a bad trip”. Ainda estava bem, mas precisava de um amigo, de conversa de companhia para não entrar em paranoia. 
O perigo para ele, não era o ácido, era ele, que andava fazendo mal a si mesmo. Ele estava em um lugar bad trip na vida, tentando sair desse lugar. Drogas não ajudam em nada, quando estamos mal. Pelo contrário. Nunca fui das drogas, mas quando usava, era em momentos bons, era quando eu estava feliz. Ácido, cogumelo, maconha (cocaína nunca: vi muitos amigos se fuderem feio na vida por causa de pó, então nunca cheguei perto).
Liguei pro outro Bruno e pro David, fomos todos para o Cliff.
O motivo inicial era o drama do Bruno: Pamela tinha rompido com ele. No começo, a conversa foi toda em torno do surto da separação que já durava três meses. Depois a conversa foi sendo diluída entre os assuntos de todos e a força da natureza ao nosso redor.
Todos, tomamos meio ácido. O que poderia ter sido uma bad trip solitária do Bruno, acabou sendo uma viagem maravilhosa de nós todos. Voos, conversas, voos, risadas, risadas, muitas risadas, gargalhadas de doer o abdômen, conversas, voos, lua, coruja, lua, lua, lua, amanhecer, lua, lua, lua... A Lua.

Deitados no tecido sobre a areia fofa, vimos o céu se fechar e a lua se esconder. Naiá se espreguiçou, nos levantamos, subimos as dunas e fomos pra casa.

Preciso aprender a fazer ficção. Traduzir, transformar algo real em ficção.
Sou meio bloqueado pra quebrar a realidade em ficção. Falta treino, método, orientação?
Como se faz isso?
E a auto-ficção? Talvez seja mais fácil... não, não, não é.

Foi tudo verdade. O Alexandre da Lua das pedras negras tinha 18 anos, o Alexandre da lua por trás do morro tinha 46, 47 ou quem sabe 48...


Alexandre Lima

***

Vejo como é lindo sua cor e seu desenho, todo o seu ar.

Aquele azul, o âmbar, o branco iluminado e o sol a raiar. 

Queria do chão pular até o alcançar.
Bobagem a minha vou pular, pular, até somente cansar.

Vou nele é encostar uma escada, subir degrau a degrau até lá chegar.

Assim inicio meu caminhar, subindo aquela alta escada, parece que nunca vai terminar.
No início é leve e divertido tem muita gente subindo comigo. 
Somos fortes para o alto olhar.
Assim dias vão, sinto frio, calor, desespero e ardor. 
Mas nada importa, pois para o auto miro e nisso dou um longo suspiro. 
Penso como vai ser lindo quando nele pousar. 
Agora nem tanta gente comigo, alguns gritam veementemente, desce daí, seu lugar é aqui. 
Aí só vão loucos e santos, e você que não é nenhum nem outro não vai tão alto chegar. 
Paro e penso será?
Mas que lindo é aquele lugar, vou mais um pouco tentar

Subo agora sozinha, pois todos já encontraram seu lugar. Continuo subindo incessantemente sem falhar.
De repente olho pro alto e aquele raio a me luminar, só por capricho ou dó, transformou me em quase pó. 
Um ser tão indefeso, e pequenino. Tudo bem, é até bonito: transformou-me: aquele ser incansável guerreiro, em uma mensurável borboleta! 

Que injustiça esse ato, quebrou o meu tão sonhado pacto, de subir devagar, mas de lá no alto chegar. 

Agora estupefato, sem conseguir subir mais nem mais um sapato. 
As lágrimas escorrendo e nisso escorrego a despencar. Vou morrer agora, desfalecer! Quem sabe assim lá chego, no lugar prometido de paz e sossego, pois exausto estou, quero me deixar levar. 
Em queda livre, quase no chão… nesse momento, um tão desespero e tanto de alento, olhei para o alto. 
Entre a terra e ceu, vi um azul, um cinza, um ambar, quase mel. Mas de lado estavam e não lá no céu. 
Minhas asas tímidas se moveram e do chão me deteram. Pude respirar…

Ah aquele azul, aquele sol e mais tarde aquele luar, toda aquela cor, o céu! 
De novo me fizeram sonhar e também acordar para as asas que me deram para poder voar!

(Vanessa Kelda)

***

(Juliana)











 

Comentários

Postagens mais visitadas