Escrever para esquecer - #grupodeescritamatinal

 



Textos produzidos no Grupo de Escrita Matinal conduzido por Liana Ferraz.
Saiba mais em https://forms.gle/4qVk5wpVwScZePUi9


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queria tirar de mim tudo celular

nunca mais ouvir uma vibração

nunca mais ter o que segurar na mão

eu saio dele mas ele não sai de mim

eu saio dele? 

acho que não

queria desligar, jogar pra longe e esquecer

ficar sem saber o que fazer

voltar a andar olhando pro chão

ih, vibrou

peraí só um pouquinho

que eu preciso responder



mari desconsi



***

escrever para esquecer

 

que o medo paralisa

que a casa tem fantasmas

que um pé de cabra pode

arrombar uma porta

arrancar uma janela

voar sobre cabeças

rasgar um coração

 

esquecer que faltam poucos meses para o fim do ano

e isso não vai fazer diferença

esquecer que o Carnaval é meu

mas eu dividi com vc

e te dei a maior parte.

 

esquecer que

não vai sobrar dinheiro

não vamos deixar de gastar

não sabemos nada sobre porcentagem

ou divisão.

 
Ana Claudia Abrantes
(Quarta-feira, 01 de setembro de 2021, 08:27 da manhã)

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Eu quero lembrar de esquecer de todos os pensamentos que me invadem enquanto faço uma atividade e não consigo me concentrar nela.

Tô me alongando? Esqueço da consciência corporal e sou atropelada pelos meus pensamentos. Eu quero é lembrar de estar com o meu corpo.

Tô lendo? Me perco da leitura em função da minha agitação mental.

Tô meditando? Lá estão os pensamentos me atravessando e fixando morada. Quero deixá-los ir.

O que quero, afinal, é lembrar de estar no presente, fazendo uma coisa por vez. Mente e corpo alinhados sempre que possível. 

No mais, não quero esquecer do que vivi, do que senti, do que sofri. Todas essas coisas quero olhar nos olhos, quero nomeá-las, quero reconhecê-las para que elas não virem monstros dentro de mim prontas a me fazer transbordar e explodir. Do meu passado e emoções quero ser íntima.

Quanto a lembrar de esquecer os pensamentos, hoje tá um pouco difícil de me deixar fluir na escrita. Acordei com a mente acelerada, mil afazeres, mil questões emocionais a serem elaboradas, mil prioridades que não essa.

Veio culpa, veio frustração, daí veio alguma inspiração. Lembrei que faz muito sentido pra mim estar aqui, participando desse grupo de escrita matinal. Enfim, tô aqui, e isso já é um ótimo começo. E que, dia a dia, eu me lembre de não esquecer das minhas intenções quanto à escrita em minha vida.

(Ana Flávia)

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Escrever para esquecer
Que meu ventre está doendo
Sinto calor
Esquecer que meu sangue se foi
Me lembro
Meu ventre dói, me esqueço 
Calo a dor, calor
Meu ventre mingua até esquecer. De mim.

(Juliana Mariz)

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Esquecida como sou, só vivendo de auto-lembretes:
Esquecer que alguma vez me senti incapaz
Esquecer também das vezes que duvidei que eu podia mais 
Me lembrar de esquecer das dores e ilusões antigas
Que é sempre bom lembrar de esquecer do querer que me faz voltar aquela outra vida
Quero me lembrar de esquecer das partidas
das que abriram e fecharam feridas
Pois quando lembro, se lembro, é pra esquecer que um dia tudo isso já custou a minha paz 
E hoje eu definitivamente não me condiciono mais
E confuso também porque sempre lembro a importância de não me esquecer que é tudo mudança e se for pra ir a algum lugar além de dentro de mim que seja pra frente, pro desconhecido, me lembrando de não me esquecer do presente, porque do resto quero lembrar de esquecer e não deixar contido.

(Mikaelle Santos)

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Lista de coisas pra esquecer.
O dia vermelho da coisa arrastada que entrou pela porta e sentia dor.
O dia seguinte da coisa arrastada que virou dor congelada no tempo.
O dia antes da porta, onde a porta fechada separava o medo da dor.
O dia bem antes da mentira lavada.
O dia ainda antes da parede colchão onde a cabeça batia para sentir mais dor.
E não ouvir nada.
O dia noite de ficar imóvel para não ser percebida.
Manhãs e tardes de solidão.
Manhãs e tarde.
E noites.
Tem mais coisas pra esquecer.
Muito mais coisas.
O dia da festa cola riso que virou história de traição.
Era dia noite de confusão.
O dia depois da festa cola riso que virou culpa.
A culpa de ter rido.
A culpa de ter ido.
A noite que ia virar dia e virou dia em meio a uma festa estranha.
A noite antes de virar dia que eu achava que sabia o que era festa estranha.
O dia antes da festa estranha que eu achava muitas coisas.
Achava que sabia.
Dias e dias em que insistia que ir não era culpa minha.
Que rir não era culpa.
Esquecer o dia que eu achava que sabia que podia ir.
Esquecer de rir.
Esquecer da culpa.
Se tenho mais tempo vou aproveitar.
Não quero esquecer de hoje por isso vou lembrar.
Esquecer a chegada muda.
Esquecer o dia manhã onde a felicidade virou nada.
Esquecer os rostos traidores.
As dores.
A dor da ausência de saber.
A dor de não ter ido.
A culpa de não ter ido.
A solidão de não ter estado.
Esquecer o luto da chegada e a ilusão da partida.
Ainda não posso esquecer a ilusão da partida.

(Cibele Cipola)

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Esquecer de:

Ser.

 

Quando me esqueço do que a vida fez de mim caio no vão das infinitas possibilidades;

Quando me esqueço do que os outros pensam de mim realizo infinitas possibilidades;

De tanto esquecer volto a ser começo, respiro ar novo, me torno fruta prestes a ser degustada, folha em branco, turista num país nunca visitado, bebê no ventre, pássaro inaugurando o voo solo; ouço ruídos como nunca antes , observo novas formas, percebo olores, vejo novas cores, posso ser outros.

Quando me esqueço de ser sinto muito ao me ver nada.

(Por Helena Borum)




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