Palavras - #grupodeescritamatinal

Textos produzidos no Grupo de Escrita Matinal conduzido por Liana Ferraz.

Saiba mais em https://forms.gle/4qVk5wpVwScZePUi9

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tomando café – catarina de luca

um café. uma colher. os olhares que passam...

a meia hora espero. a meia hora eu penso como dizer “oi! tudo bem?”

quão rápido, quão alto, que palavras usar.

a meia hora olho para o meu café pensando “cara, vai manchar meu dente”

apesar da paciência de hoje, você deveria saber que uma pessoa paciente, eu não sou. não sou

uma pessoa calma e “de boa, bróder”. normalmente não esperaria meia hora, olhando para um

café gelado.

pego meu telefone e leio alguma coisa para parecer que minha solidão tem proposito. não

convence ninguém, mas tenho aonde olhar, além do horizonte.

um café. uma colher. um cachorro que passa. ele me dá um beijo de cortesia, dizendo “ele está

vindo, moça, não pira não”

um café. uma colher. um beijo de um cachorro. uma criança que passa lambendo um sorvete,

com um sorriso frouxo.

em que momento paramos de sair para tomar um sorvete e começamos a sair para tomar um

café? da vida adulta, essa é a mudança mais deprimente.

troca-se o doce, o gelado, o achocolatado, o morango, as mãos meladas, pelo amargo, pelo

quente, pelo forte, pela sujeira no dente.

paro de pensar em sorvete e começo a pensar em que papos vou bater, nos assuntos que vou

puxar, ensaiando as minhas falas para o meu café e pra minha colher.

quanto mais ensaio, mais me decepciono. me chamo de feminista e aqui estou, a meia hora

sentada, a bunda quadrada, esperando alguém, e nem uma mensagem tipo falando “oi! atrasei

um pouco, já to chegando!”

nem isso.

45 minutos depois, um café, uma colher, e deu.

vou mandar uma mensagem pra ele.

atrasa quase uma hora e nada??

vou abrir o zap e mandar se fu-

meu deus. o encontro é amanhã.

um café, uma colher, e sou eu que cheguei cedo de mais.