Sonho - #grupodeescritamatinal

 

Sonho Causado pelo Voo de uma Abelha ao Redor de uma Romã um Segundo Antes de Acordar - Dali - 1944


--- Textos produzidos pelas pessoas participantes do Grupo de Escrita Matinal conduzido por Liana Ferraz

--- Inscrições e informações https://www.liv.us/grupo-de-escrita-matinal 

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Estou em queda livre. De repente percebo minha asas e passo a voar. Ainda aterrorizada, vejo do alto a paisagem deslumbrante: montanhas, cachoeiras e mar verde azulado.

Uma gaivota passa por mim e olha nos meus olhos. De alguma forma, que eu não compreendo, nos comunicamos. Sou tomada por uma amorosidade e sinto cheiros variados e maravilhosos, um deles é lavanda. Tudo é calmo.

Pouso no topo de uma montanha.

Avisto uma cidadezinha linda, toda colorida, planejada, tudo em harmonia: ruas, casas, natureza. Resolvo descer e explorá-la.

Vejo de longe os moradores: Interagem de forma alegre. Chama a atenção a aparência: são imensos, orelhas, mãos e pés gigantes, lembram avatares, serão os arcturianos?

Minha presença é percebida e recebo olhares carinhosos de acolhida. Todos percebem que sou uma alienígena. Sinto um quase medo, repelido por um sorriso. 

Perguntam meu nome e se apresentam. Confirmam minha suspeita. são os irmãos arcturianos. 

Meu Deus, eles existem! Onde estou?

Na nossa comunicação não há som, mas intuição. Respondem que estou onde sempre estive, mas agora posso ver além dos olhos da razão, da matéria, minha expansão da consciência me permitiu acessar outra dimensão.

Sou convidada a percorrer o local e para um banho de cachoeira.

No caminho borboletas coloridas vêm brincar comigo. As árvores me observam e percebo o fluxo da seiva, o líquido da vida. Suas folhas são verdes, azuis, roxas e deve ser primavera, porque o chão está forrado de flores e folhas de cores diversas. É estonteante.

Estamos próximos a cachoeira.

Visualizo seres indígenas, crianças e adultos, e sinto que são os protetores da floresta.

Fecho os olhos e percebo que sou guiada pelos olhos da intuição. Sinto ainda com mais intensidade.

Por alguns instantes sinto a força das águas massagearem minhas costas.

De repente não existo. Sou o todo e o todo sou eu. Não tenho contorno  sinto pulsar junto ao coração uno das arvores, das aguas, dos pássaros, dos irmãos arcturianos. Sinto mandalas, chacras, luzes e sons.

Acordo com o toque da tigela de cerâmica que indica o fim do ritual.


(Eve)


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Sonhar acordado é facil

Estou sempre a praticar 

É vontade de ser e ter e obter e fazer!

Sonhar dormindo é entregar-se ao viver, ao marcado aqui dentro, no mais âmago de nosso ser. 

Independe de nós, se deixar dizer! 

Incoerências escondidas nos porões da fala e da escuta.

A linguagem surreal do querer.

Imagens um tanto quanto empoeiradas, saindo, apesar de querer esconder.

A análise daquele dia, que nem pensei, só falei e nada escutei.

Não escutar é fácil!

Posso, tentei 

Mas dito foi, isso eu bem sei

Logo à noite a encontrei 

A linguagem do sonhos!

Ora, ora, de repente, mas nem tanto, enfim acordei.


(Vanessa Kelda)


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A mudança


O apartamento onde morava há anos havia desaparecido. Estava agora em um lugar antigo e improvisado, que mais parecia parte do térreo de um prédio (mal) transformada em unidade residencial. A frágil porta de entrada era feita de um vidro opaco e não trancava direito. Havia um basculante semiaberto na parede. Tentou fechá-lo, sem sucesso. 

Perguntou-se por que motivo estava morando ali, e o marido disse que não sabia, mas recomendou que fosse ver a área de lazer, era mais agradável que o apartamento. Questionou se o contrato de aluguel era de 30 meses, e ele respondeu que sim, ao que ela reagiu dizendo que não ficaria ali a longo prazo.  

 Saiu do apartamento e viu um enorme buraco repleto de cacos de vidro. Qualquer pessoa podia entrar no prédio por ali, o acesso da rua era direto. Achou aquilo bastante inseguro, e assim que encontrou o zelador, reportou a existência do buraco. Ele não demonstrou nenhuma surpresa e relatou que uma moradora havia se jogado dali há uma semana. Disse que acontecia com alguma frequência naquele prédio, e ainda não havia caixa para consertar o estrago. “Mas ela ficou bem?” preocupou-se ela. “Não”, respondeu o rapaz, e seguiu seu caminho.

Decidiu pensar no assunto depois, e após alguma dificuldade, encontrou a famigerada área de lazer, onde havia uma piscina esverdeada. Um homem estava nadando. Perguntou a ele sobre a academia do prédio, ao que foi informada que só havia uma esteira ergométrica para ser utilizada, e era preciso pegá-la no fundo da piscina. Tentou tirá-la de lá, mas um outro rapaz apareceu e puxou-a para si, anunciando que a tinha visto primeiro. Discutiu com ele por algum tempo, mas logo decidiu que não valia a pena. Precisava mesmo subir para trabalhar.

Embora tivesse saído de casa por volta do meio-dia, quando voltou, já estava escuro e eram oito horas da noite. Desistiu do trabalho. Ouviu o telefone tocar e viu no visor do celular que era a mãe. Recordou-se que não havia contado sobre a mudança, pensamento que a deixou angustiada.

 Escutou um barulho. Alguém forçava a maçaneta da porta. Correu até lá e tentou trancá-la ao mesmo tempo em que o invasor a puxava no sentido contrário. Empregou toda a força que tinha dentro de si, e finalmente conseguiu trancá-la. Suspirou aliviada, até lembrar-se do basculante semiaberto. O invasor já estava tentando abri-lo, e ela novamente puxou-o com todo o peso de seu corpo. Conseguiu. O intruso seguiu tentando entrar no apartamento por algum tempo. Passado um minuto ou uma hora — ela não saberia dizer — ele finalmente foi embora. 

Sentou-se chão e chorou, lamentando a decisão que não se lembrava de ter tomado.


(Fernanda França)


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(Nina Giovelli)


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O trote dos cavalhos é sincronizado. São todos pretos, montados por cavaleiros com  armaduras de ferro e viseiras com plumas vermelhas no topo. É noite, atravessam, em bando, a ponte alta, de parapeito branco, que divide as cidades de Campestre e São Bernardo. Cavalgam ligeiros, só vejo o cavalo que segue a meu lado. Ao fundo, as águas rápidas completam meu olhar. 
Enfileirados, relincham tateando os degraus de uma escada branca em espiral. Entortam o  peito para conseguirem descer em direção ao nada. 
Bandeira tremula ao vento, elevada pelo cavaleiro de capa vermelha. Nenhum símbolo, nenhuma letra, esfarrapada.

(Giana)

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(Cláudia Suzano)


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(Alexandre Lima)












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