Resenha "Tudo é Rio" de Carla Madeira

 

Tudo é rio não é para todo mundo. Pelo menos não nesse momento em que as vidas estão tão turbulentas e tenho achado muito justo que se busque amenidades. Agora é (e muito) para aquelas pessoas que renascem diante da potência de uma literatura corajosa. Carla Madeira é corajosa. A autora começa já desafiando nossos valores, nossa moral, nossos esconderijos psíquicos. É leitura de entrar por todos os buracos. Visceral, erótico, repugnante, afetivo, amoroso e honesto. Um retrato tão cru de uma realidade que, de tão real, parece absurda. Começamos conhecendo Lucy, uma mulher que gosta de ser o que é: prostitut*. Ou melhor, p*ta. Já aí entramos em contato com a libido e o desejo em estado bruto. As narrativas dos "amores" de Lucy são de tirar o fôlego. Venâncio, outro protagonista da história, nos é apresentado na sequência. E é interessante que sinto que é o que eu menos conheço. Talvez pela autoria feminina, curiosa e desvendadora dos mistérios todos que orbitam nossa existência como mulheres num mundo castrador. Venâncio é um lugar de encontro. Um lugar fundamental na narrativa para que a gente, além de Lucy, conheça Dalva. Dalva, uma das personagens mais apaixonantes que já conheci, é o amor em todas as suas contradições. Conhecer Lucy, Dalva e Venâncio (e as personagens que vêm ao encontro dessa história, com destaque para Aurora, mãe de Dalva) é um movimento profundo de auto investigação. Os afetos entram em rota de colisão. Não é possível decidir entre um e outro, melhor mesmo é deixar-se navegar por todos. Carla Madeira faz milagre com as palavras. Intensa, vai do céu ao inferno em questão de páginas. Além de tudo, o livro é do tipo viciante. Parar de ler? Não dá. Você vai devorar.

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