Medo da felicidade












Depois da tempestade, vem sempre a calmaria. E depois da calmaria? Vem de novo a tempestade? Mas quando? Vem forte? Mas eu preciso me preparar? Preciso comprar batata, miojo, água? Preciso fazer hemograma? Preciso trocar o aquecedor a gás?
Ah, eu tenho isso. Junto juntinho com a felicidade, vem a sensação de irrealidade, de desajuste, de "não pode ser só isso". Como se, para mim, a felicidade fosse sempre um prólogo para a tragédia, escrita por um dramaturgo sacana, para confundir minha cabeça, projetos e sentimentos.

Descobri que isso tem nome, diagnóstico, CID: é a famosa ansiedade, colocando, lado a lado com os acontecimentos mais banais ou extraordinários da vida, pensamentos catastróficos. Descobri também que não estou sozinha nessa, infelizmente. Que muitos de nós estão vivendo assim há tempos e esse número só aumenta. E que não é nem minha culpa e nem de ninguém que também se sente assim. Que é todo um esquema complexo onde a vida humana está muito abaixo na lista de prioridades da organização social onde vivemos. 

Você não está sozinha. Você não está sozinho. E, quando a gente se unir, teremos que dar uma leve pane no sistema que nos adoece para que meia dúzia passeie construa bunkers e naves para o fim do mundo.

Sim, saúde também é política.


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