Competição




Competir comigo mesma faz com que eu sempre chegue em primeiro, mas também em último lugar. Nem perco, nem ganho; nem lamento, nem celebro. Esse "entre" não seria, por definição, a angústia? Algumas frases de efeito, boas para banalizar a exaustão e dar ares de merecimento do mundo do trabalho empreendedor, são, realmente, letais para a alegria. Como drogas, viciam. O vício do próprio vício; o desejo de acalmar o desejo. Parar para pensar - mas o que eu quero com isso? - pode ser o começo de uma relação mais leve com a vida. Porque talvez você não queira nada de fato. Ou talvez você queira uma casa com vista para o horizonte para que trabalhe com o nariz grudado numa tela, tal qual agora, no apartamento de quarenta metros quadrados. Eu desisti de competir comigo mesma, pois o prêmio dessa batalha onde eu mato e morro, parece ser bobo demais. O prêmio maior de todos os mortais, é o tempo. E é justamente o que perco na busca por outras recompensas. Não faz sentido. Mas tem toda uma máquina feita certinho pra gente achar que faz. Eu não quero mais competir comigo mesma. Quero sentar comigo mesma num sofá e ver quem de nós dorme e quem de nós faz cafuné. Decidir e fazer os acordos e paz. Argumentar comigo mesma e achar a medida da calma, o equilíbrio entre o trabalho e o descanso, entre o dinheiro e o tempo, entre o desejo e a resignação. Quero deitar comigo mesma e enquanto uma sonha, a outra cuida de fazer bater o coração e respirar.

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